Representações sociais de professores de língua materna em formação inicial sobre o estágio de regência

RESUMO

Cada vez mais, os professores vêm exercendo um papel de destaque na ressignificação das práticas de ensino-aprendizagem de língua materna. Nesse contexto, os cursos de formação continuada e inicial de professores de língua materna vêm sendo repensados. Nesta pesquisa, então, identificamos e reconhecemos o acervo de representações sociais (doravante RS) de oito estagiárias da disciplina de Estágio em Ensino de Língua Portuguesa do curso de Letras-Português da UFC sobre o estágio de regência, engendradas, mobilizadas e ressignificadas na e pela disciplina. Considerando a premissa de que o estágio é o espaço privilegiado de ressignificação de representações docentes, analisamos se há, de fato, ressignificações nesse espaço. Essa proposta é crucial para (re)pensarmos o estágio de regência como etapa do percurso formativo do professor de língua materna. Em uma abordagem discursiva e ideológica das RS, na qual destacamos a função da linguagem no engendramento e na circulação de representações,delineamos, a partir das tomadas de posição das estagiárias frente ao objeto de representação “estágio de regência”, (re)veladas pelas modalizações no seu discurso durante a interação com os seus pares em grupos focais, os sentidos e os valores que elas, as estagiárias, atribuem ao estágio de regência, antes e durante a disciplina. Para isso, apoiamo-nos nos quadros teórico-metodológicos da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1961, 1978, 2009 ; JODELET, 1984, 2001, 2005; DOISE, 2001 ), do Interacionismo Sócio-discursivo (BRONCKART, 2006, 2008, 2009) e nos conceitos de grupo social e de ideologia (VAN DIJK, 1999, 2003, 2009). Como procedimentos de coleta de dados, adotamos um questionário e dois Grupos Focais (doravante GFs), situações de ação de linguagem em que as estagiárias se engajaram e mobilizaram suas RS sobre o estágio de regência. Como categoria de análise, adotamos as modalizações (BRONCKART, 2009), pois materializam linguisticamente avaliações e julgamentos. A partir da análise das modalizações, identificamos as tomadas de posição do grupo frente às atividades e às práticas da disciplina. Em nossa análise qualitativa-interpretativista, percebemos que as estagiárias representam o estágio de regência, tanto antes quanto durante a disciplina, a) como aprendizagem da profissão e como aplicação da teoria e de técnicas de ensino, b) como feedback/avaliação da prática e c) como atividade final para conclusão do curso e como última etapa para certificação. Sendo assim, as estagiárias, durante a disciplina, não ressignificaram suas RS e, marcadas por essas RS, participaram das atividades da disciplina apenas para cumprirem aspectos burocráticos, sem refletirem significativamente sobre, por exemplo, o seu agir. Nesse sentido, o estágio de regência pouco contribuiu para a ressignificação das RS das estagiárias sobre as atividades e sobre as práticas do estágio de regência, dado o caráter transitório da disciplina. Nossa pesquisa, então, lega à reflexão dos responsáveis pela formação de novos professores resultados que devem inquietá-los: se professores em formação inicial representam o espaço do estágio de regência não como o espaço propiciador de ressignificações do fazer/ser docente, mas como o espaço de cumprimento de obrigações burocráticas para efeito de obtenção de Diploma de Licenciatura, que docente estamos formando?

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