As representações do agir professoral: um estudo à luz do interacionismo sociodiscursivo

RESUMO

Este trabalho apresenta resultados de um estudo sobre as representações que duas professoras de português do Ensino Médio fazem de seu trabalho diante de situações de indisciplina/conflito em sala de aula, através da análise das modalizações presentes em seu discurso. O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar como o professor se representa em seu discurso sobre o agir professoral, e os objetivos específicos foram: analisar como o professor modaliza o seu discurso ao se defrontar com situações de indisciplina/conflito em sala de aula e investigar como ele mobiliza as modalizações ao falar de seu agir diante desses momentos. O objeto de estudo é, portanto, o discurso do professor produzido seja em sala de aula (agir real) seja em situação de autoconfrontação (agir representado). Os dados foram coletados em duas escolas públicas da rede estadual de ensino do Estado do Ceará, através da observação e gravação das aulas das participantes, da aplicação de um questionário e de uma entrevista em situação de autoconfrontação. Para análise dos dados, adotamos o quadro teórico-metodológico do Interacionismo Sociodicursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2008), que fornece importantes elementos para a análise das representações do agir professoral (CICUREL, 2010, LEURQUIN, 2013), por meio da análise do texto produzido pelo professor e, mais especificamente, das modalizações. Através desse estudo, verificamos que as modalizações mais utilizadas pelas participantes, no momento de lidar com a indisciplina em sala de aula, foram as modalizações deônticas de natureza permissiva (poder + infinitivo). Já durante a autoconfrontação, houve um predomínio de modalizações lógicas e apreciativas, sobretudo, ao falarem dos impactos da indisciplina discente em seu agir. Apesar de cada participante revelar representações distintas, verificamos que ambas mencionam o diálogo como uma estratégia para lidar com a indisciplina e também falam da importância de buscar entender as razões dos comportamentos indisciplinares dos estudantes. Observamos que a metodologia adotada é um aspecto relevante para entender a indisciplina. Constatamos ainda que as participantes adotaram estratégias diferentes para lidar com as situações de indisciplina/conflito em classe. De fato, tais estratégias variavam a depender da turma com as quais cada qual lidava. Observamos também que, em geral, as situações consideradas conflituosas para cada participante eram diferentes. Para explicar essa diferenciação, foram destaques as representações de cada educadora, reveladas na autoconfrontação. O contexto de produção foi também outro fator importante, visto que as duas colaboradoras atuam em escolas distintas da cidade. Por fim, esta pesquisa nos mostrou que, para tentar entender a indisciplina em sala de aula e a reação dos docentes ao se defrontar com ela, é preciso analisar o que dizem os professores sobre o seu agir diante da indisciplina.

Confira aqui a dissertação na íntegra!